sexta-feira, 20 de abril de 2012

Alice e o amor...


Ela está sozinha. De novo. Mais uma ilusão. Ela então se enfurece. Pergunta-se se são todos iguais. E se doerá o mesmo tanto todas as vezes que se apaixonar. Porque, verdade seja dita, é assim que ela é. Se entrega, se encanta. Então o pior não foi pensar que nunca mais conseguiria se apaixonar; foi saber que se apaixonaria novamente, mais dia menos dia. E que ficaria sozinha. De novo. E que sim, doeria o mesmo tanto que doeu da outra vez.
  
A vida seguiu seu curso. Ela se ocupou: conheceu gente nova, assistiu a filmes de todos os tipos, leu livros novos, ouviu antigas músicas...Sacudiu a poeira, e tentava dar a volta por cima. Muitas perguntas ainda a assombravam, mas não doía tanto acordar de manhã.

 Mas uma pendência má resolvida de um passado recente reacendeu alguma coisa dentro daquele coração machucado, esfolado. A possibilidade de se machucar novamente instigou seu instinto de sobrevivência, e ela se retraiu. Construiu uma barreira entre ela, e um pobre cavalheiro que tentava escalar aquele muro.

 Mas Alice sempre será Alice, e ela não pôde se conter ao ver o coelho branco descer buraco abaixo. Baixou sua guarda, deu à cara a tapa novamente. E se entregou, se encantou. Ele parecia diferente, mas todos eles parecem diferentes no início. Havia algo em como ele olhava para ela. Como se ela fosse maravilhosa, a mulher mais bonita que ele já vira. Havia desejo também, tanto desejo naqueles olhos de menino. Tanto que ela corava ao encará-los. E, ah! Ele era tão carinhoso, tão preocupado com a vida dela. Ela estava convicta de que finalmente o cupido tinha acertado.

O tempo passou, e ela foi percebendo quem realmente era o coelho branco. E ele não era tão príncipe encantado assim, ela concluiu. Era egoísta. O carinho foi sumindo lentamente, até restar apenas algumas migalhas que ela humilhantemente aceitava, porque a essa altura não sabia mais viver sem ele. Ela poderia, é claro. Ela sempre poderia se reinventar. Mas uma vida sem ele era pior do que qualquer coisa, até que uma vida sem carinho. O sexo sumiu também, e Alice não sabia o que tinha feito de errado, além de amar aquele coelho como nunca amara alguém antes. “O que eu fiz de errado, além de amá-lo mais do que devia?”, perguntava-se constantemente.

Alice continua curiosa, continua magoada, continua sem respostas. A única certeza que Alice tem, é que gostaria de que o tempo voltasse. Gostaria de que a ilusão se tornasse verdade. Seria tão bom, não seria? Alguém carinhoso, preocupado. Por quê, em vez disso, ela tinha que ganhar ingratidão e egoísmo?

O amor consome, machuca. Nem sempre reconhecem seu esforço. Mar amar a si mesmo traz inúmeros benefícios, e nenhuma mágoa. Alice ainda tem muito o que aprender, mas da próxima vez que ver um coelho branco passar, vai preferir colher margaridas e com elas fazer um belo colar. 

- Priscila Moraes