quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Um ensaio sobre a insegurança

A verdade é que ninguém nunca botou fé em mim. Sem drama...ninguém mesmo. E, claro, como todas as outras pessoas que não tiveram o apoio que mereciam, eu pensei "não preciso de ninguém apreciando o que eu faço". Mas não é assim que funciona. Pelo menos, não comigo. Não é que eu precise de alguém lambendo o chão que eu piso, mas...de vez em quando é bom ouvir um "parabéns", ou "estou orgulhoso(a) de você, Priscila", ou qualquer coisa que me faça sentir bem, quando eu faço algo certo, sabe? Passei a vida inteira tentando fazer minha mãe se orgulhar de mim, e nunca consegui. Nunca ouvi um "parabéns", um "eu te amo, filha", nem um simples "obrigada". Tenho mais lembranças ruins sobre isso do que gostaria de ter. Nunca recebi elogios dela. Mas críticas...isso sim. Para ela, eu nunca fiz nada certo. Há um certo tempo eu parei de tentar. Sei que meu pai se orgulha de mim, mas ele não é bem o tipo carinhoso. Pelo menos não é mais, desde que eu cresci. Não posso exigir muito dele também, a culpa é toda minha se nos afastamos, se não somos mais quem costumávamos ser. Enfim, o ponto é que eu cresci sendo cobrada até não poder mais, o melhor de mim nunca era considerado nem "bom". Sempre sobrevivi, mas é difícil ser uma pessoa segura e confiante, sendo que não tenho base para isso. Um dia espero ser. Um dia espero ser forte, confiante e inabalável. Mas não sou agora. Você, Kleber, é a única pessoa que me apoia incondicionalmente, cuida de mim, me escuta e bota uma fé do caralho em mim. Até seis meses atrás eu nem sabia o que era isso, então, por favor me dê um desconto pela insegurança. Sempre te avisei que era um produto defeituoso.
Eu te amo muito; mais do que pensei ser possível amar alguém. Não me sinto tão especial como você me vê, e por isso tenho medo. Eu tenho um medo do caralho de que você vá embora, ou não sinta mais o que sente por mim, ou veja a bagunça que eu sou, e decida que não vale a pena perder seu tempo comigo. É tudo tão intenso, o ciúme, o tesão, o amor, a vontade de estar perto de você...e eu não sei lidar com isso tudo. Sim, eu sou fraca. Sim, eu sou insegura. Mas apesar disso, sempre sobrevivi. Com você é diferente, eu fico mais vulnerável que o normal, e eu não consigo esconder. Então, perdão pelos choros, pelas besteiras que digo ou penso as vezes...Porque apesar disso tudo, eu te amo tanto, tanto, tanto...que eu espero que compense por qualquer merda que eu venha a fazer.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Você tem um cigarro?

 
Mas sei lá, não sei se toda essa coisa patética é mesmo necessária. Tô resolvendo umas coisas aqui viu, esses negócios de sentimentos demonstrados demais meio que estraga. Tô aqui aprendendo que nem todos dão valor ao que você pode oferecer, e acabar demonstrando afeto demais começa a encher o saco, e eu digo tudo isso da minha parte. Chega de ligações, preocupações, sentimentos demonstrados aos extremos. Vou ficar mais relax mesmo, não quer me ligar, não liga, mas também não ligarei. Não quer me ver, não me veja, mas também não sairei que nem doido atrás de você […] É apenas um aviso que eu deixo bem simples: se quiser, me procura você. E outro aviso que eu deixo também: isso tudo é só conversa mesmo, teoricamente falando, tá tudo certo. É quando chega na hora da prática que ferra com tudo.

Caio F. Abreu 

Nunca fui como todos...


Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só...

Florbela Espanca
 
 

domingo, 4 de dezembro de 2011

QUEM QUER QUE SEJA VOCÊ A SEGURAR AGORA A MINHA MÃO


"Quem quer que seja você a segurar agora a minha mão,
sem uma coisa tudo será inútil,
dou-lhe um honesto aviso antes que você me tente mais,
não sou o que você supôs, mas muito diferente.
Quem é aquele que deseja se tornar meu seguidor?
Quem se apresentaria como candidato às minhas afeições?
O caminho é suspeito, o resultado incerto, talvez destrutivo,
você teria de desistir de tudo o mais, eu sozinho haveria de ser seu estandarte único e exclusivo,
seu noviciado seria pois longo e exaustivo,
toda a teoria passada da sua vida e toda a conformidade com as vidas ao seu redor teriam de ser abandonadas,
assim me deixe agora antes que se complique mais, tire a mão dos meus ombros,
me largue e siga o seu próprio caminho.
Ou então furtivamente em alguma floresta, para tentar apenas,
ou atrás de uma rocha ao ar livre
(pois em nenhum quarto coberto de nenhuma casa eu emerjo, nem em companhia,
e nas bibliotecas permaneço como quem é mudo, ou parvo, ou não nascido, ou morto),
mas muito possivelmente com você numa colina alta, primeiro vigiando por milhas em volta para que ninguém se aproxime sem avisar,
ou possivelmente com você a velejar no mar, ou numa praia do mar ou numa ilha sossegada,
aqui eu permito que você coloque seus lábios sobre os meus,
com o beijo prolongado do camarada ou o beijo do recém-casado,
pois sou o recém-casado e sou o camarada.
Ou, se você quiser, metendo-me entre suas roupas,
onde poderei sentir os soluços do seu coração ou repousar sobre o seu quadril,
carregue-me quando for através das terras e dos mares;
pois apenas tocar você assim é o bastante, é o melhor,
e tocando você assim eu adormeceria em silêncio e seria carregado eternamente.
Mas examinando estas folhas você se arrisca,
pois a estas folhas e a mim você não entenderá,
elas o eludirão no princípio e mais ainda depois, eu certamente o eludirei,
mesmo quando você pensar que me apanhou de modo inquestionável, cuidado!,
você logo verá que lhe escapei.
Pois não é pelo que coloquei neste livro que o escrevi,
nem é pela leitura dele que você o ganhará,
nem são esses que me admiram e me elogiam com jactância aqueles que me conhecem melhor,
nem são os candidatos ao meu amor (a não ser no máximo alguns poucos) os que sairão vitoriosos,
nem meus poemas farão apenas bem, eles também farão mal, talvez até mais,
pois tudo é inútil sem aquilo que você poderá suspeitar em muitas ocasiões sem compreender, aquilo que sugeri;
assim me deixe e siga o seu próprio caminho."

Walt Whitman